quarta-feira, 14 de maio de 2008

Hoje é dia de Lobão


Minha adolescência foi marcada por músicas. Dentre elas a música de Lobão era das melhores, tinha recortes de revistas, todos os discos vinil, consegui por duas vezes ver o show dos bastidores, ao lado do palco.
Falei com ele antes do show e depois.
Enfim, fui aquela tiete que estava acompanhando todos os passos do ídolo.
Para homenagear Lobão, tive até dificuldade em escolher uma canção, pois ainda gosto de muitas, que lembram uma época, que agora só está na minha memória.

"Discografia Comentada" pelo prório Lobão

Iniciei a minha carreira fonográfica ainda nos anos 70, com 17 anos, com um grupo de roque progressivo chamado Vímana. Fomos convidados para fazer um teste no que seria o primeiro estúdio de 24 canais no Brasil. A fita chegou a ser realizada com um material que daria um LP, e, posteriormente chegram a ser fabricadas algumas cópias de um compacto simples com uma música em parceria com o Lulu e o Ritchie, chamada "Zebra". Garanto a vocês que era patético... mas foi muito engraçado. Após um longo período tentando fazer outras coisas (cheguei a formar um grupo com o Arnaldo Batista e o Arnaldo Brandão, que não saiu do estágio dos ensaios) lá pelos idos de 81...

Cansado de tentar fazer a Blitz decolar, gravo acidentalmente o meu primeiro disco: "Cena de Cinema". O disco fica um ano parado e em 82, depois de gravar ainda como baterista da Blitz, o seu primeiro disco, saio definitivamente do grupo e lanço em novembro daquele ano o tal do "Cena de Cinema".

Briga com a gravadora - Lobão na geladeira por mais um ano. Volto a gravar em estúdio e volto a me encontrar com o Ritchie prá tocar bateria no seu disco de estréia "Menina Veneno"... é, sou eu mesmo que tô lá!

1984, começa mais favorável: toda a então RCA Victor é demitida! Que alegria poder testemunhar aqueles palermas arrumando seus badulaques naqueles escritórios que serviam lhes davam alguma autoridade. Presenciei alegre a faxina dos meus algozes e começo um novo projeto, Uma banda! Afinal de contas sou um baterista, não consigo me adptar à idéia de ser um artista solo. Formo então Os Ronaldos. Naquela época, tocava com a legendária Gang 90 e era delicioso fazer tantos shows sem nunca ter ensaiado porra nenhuma!

Os Ronaldos entram em estúdio para gravar o "Ronaldo foi pra Guerra"... apesar de ter naquele disco a cancão "Me Chama", que foi a música mais executada da década, a gravadora declara que só conseguiu vender 35.000 cópias. Tá bom.... Em 1985 cometo a imprudência de participar num filme como ator, "Areias escaldantes". Como passava o tempo todo consumindo muita cocaína, quase não falava no filme, eh,eh,eh! Fiz a trilha incidental junto com o Paulo Miklos, e logo em seguida faço a minha primeira parceria com o Cazuza com "Mal Nenhum". Foi uma época de muita droga, heroína, ópio, enfim...acabei expulso por mal comportamento dos Ronaldos (eles atribuíram essa atitude ao fato de que tinham um nome a zelar). Com isso, o que deveria ser um novo LP acabou encolhendo para um compacto: "Decadence Avec Elegance" e "Mal Nenum". (O Cazuza acabaria sendo expulso do Barão Vermelho também pelo mesmo motivo, eh, eh) 1986 sombrio, plano cruzado e muita euforia. "O Rock Errou" - Revanche e Elza Soares cantando um sambão no disco "A Voz da Razão". Como não podia deixar de ser... arrasou, Elzinha!

Inicia-se aqui o ciclo das prisões.

1987, "Vida Bandida" balbúrdia, perseguição política, escândalo! Foi o pior ano da minha vida. Senti o peso da arbitrariedade, do abuso de poder e da morbidez da cuirosidade zoológica que a prisão crivara sobre minhas atitudes. Era amado pelo que nunca tinha sido e odiado por não consentirem me conhecer. Enfim, a pior forma de solidão. Um estrelato formado por uma caricatura.

1988 acena um período de grande criatividade e recolhimento de alguns bônus dessa trajetória tão conturbada. Sou admitido como percusionista da bateria da Estação Primeira de Mangueria após um árduo teste. Conheço o Ivo Meireles e o Alcir Explosão e inicia-se as gravações do experimental "Cuidado!" Foi um disco bastante criticado, apesar de achá-lo seminal e fundamental para o que viria depois...

1989, é a vez do disco "fugitivo": "Sob o Sol de Parador" Sim! eu tive que fugir do Brasil para não me trancarem outra vez. Um tremendo mico. Uma flagrante e inócua persegução política. Deveria ser insuportável testemunhar uma pessoa como eu não se arrepender publicamente de atos que, para algumas tantas pessoas eram considerados no mínimo subversivos. O disco foi gravado em Los Angeles e tem uma sonoridade tão ruim quanto o "Vida Bandiada". É farofa californiana, apesar do repertório ser bem legal. (O produtor não queria gravar "Azul e Amarelo", minha última parceria com Cazuza, porque "soava meio brasileira demais", eh,eh).

1990, nova década, uma retrospectiva: "Vivo!" na Apoteose com a Mangueira e em SAMPA, no Morumbi! Foi do caralho! Muito divertido.

1991 começa meio ao avesso com a execrável e antológica "desapresentação" no Maracanã, com o mesmo show do ano anterior, uma vaia histórica. Foi um dos momentos que mais senti vergonha de ser brasileiro.

No clima, vou gravar "O Inferno é fogo". Isso era uma afirmacão categórica de quem estava experimentando o verdadeiro sabor do inferno. Foi um ano que recebi até atestado de óbito por parte da imprensa, eh, eh, eh.... Mas o disco, apesar de sua sonoridade estragada por uma masterizacão desastrada, tem músicas muito intensas como "Bangu 1 x Polícia 0", "Matou a Família e foi ao Cinema", etc, etc...

Após um período de 4 anos enfurnado num quartinho estudando violão clássico (Villa-Lobos, Garoto, violão espanhol, barroco, e o escambau à quatro), lanço o meu querido e esquizofrênico "Nostalgia da Modernidade". É o meu primeiro disco já adulto. É um período de grandes experimentacões. Na verdade, eu o considero o meu primeiro disco de verdade, e por assim sê-lo, escolhi fazer uma trilogia para chegar a algum lugar inexplorado, para falar uma língua que nem balbuciava ainda... mas intuía ser esse o caminho.. "A Queda", "Flor do Vazio", "Dé dé dé dé déu", "Sem sono", faziam um insólito mosaico, que na época foi diagnosticado precocemente como um Lobão careta (!). Sim! Rapaziada... eram os idiotas da objetividade em sua ação mais obtusa pagando aquele mico para a história (como voces mesmos estão vendo...a história acaba revelando suas verdades).

1996, sou ejetado da Virgin por acharem o meu estilo inviável.

1997, concluo o que será o "Noite" e inicio uma maratona de porta em porta pelas gravadoras. Acabo entrando pela porta dos fundos da Universal. Me colocam numa geladeirinha de leve (só 6 meses) e acabam por lançar o eletrônico e soturno "Noite". Lá vêm os idiotas da objetividade diagnosticarem um "baticum eletrônico" do Lobão. Lobão é tecno! Na verdade, o "Noite" transforma-se num trabalho ainda mais poderoso do que o próprio "Nostalgia da Modernidade". Acabou virando cult como o "Cena de Cinema".

Final de 1998, a Universal rescinde unilateralmente o contrato pelos mesmos motivos: produto inviável (ou será artista insuportável?).

Bem... com essa trajetória, não seria de se espantar que um cara como eu viesse a cometer o que cometi, né? Depois de tentar gravar o que será o CD "A Vida é Doce" (imaginem a minha euforia! o desfecho da trilogia!) através de selos dependentes e não conseguir nada além de palpites como: "voce deveria gravar um acústico, sei lá coloca um Renato Russo que a galera engole, desencava uma do Cazuza, regrava "Me Chama".... e por aí vai... eu percebi que não tinha mais saída. Tinha que inventar algo mais "criativo" do que um mero contrato com uma gravadora. Uma revista! Que tal brincar de Roberto Marinho? Legal...a gente faz o CD, numerado (porque CD é produto industrial e tem que ser numerado!) produz um puta trabalho bem feito na edição gráfica, faz um CD rom com a revista dentro e outros "breguetes" mais. Vai prá internet, cria-se um site, um site de vendas, distribuição em 20.000 pontos de bancas de jornal em todo o país, mega stores, livrarias. Pronto!

Aqui temos a revista "Lobão Manifesto" com o terceiro CD completando a trilogia "A Vida é Doce"! Numerado, inédito, independente (sai pelo meu selo Universo Paralelo, eh, eh) e por apenas R$ 14,90! Quase a metade do preço de lançamento de um CD "ortodoxo"! Puxa gente... que legal! Tô feliz pacas, sabem? Pois é... sendo assim, prestem atencão para a contagem regressiva: dia 25 de novembro - lançamento nacional do projeto "Lobão Manifesto - A Vida é Doce"!

Uma revista? um CD? um CD-Rom? Não, é tudo isso junto!

Fiquem com "Revanche"

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