quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A espera



A espera é a pior das sensações humanas... a espera empurra-nos para o tédio, ansiedade, desespero...A espera não tem posição física...podemos estar sentados no sofá, em pé numa fila, encostados a uma parede, o pé apoiado num degrau, caminhando na rua..Não interessa porque a espera está aos nossos ombros, dorme conosco, levanta-se também de manhã, respira o nosso ar, consomenos durante o dia...

Não interessa também a sua forma. Podemos esperar pela casa nova, pelo tal telefonema, esperar à porta por alguém, esperar pelo melhor, pelo pior, esperar para ser atendido num qualquer balcão, esperar pelo momento certo, esperar para alcançar, esperar pelo inevitável.

A espera não tem duração. Esperamos anos pelos sonhos, esperamos meses pela resposta positiva, esperamos semanas pelo resultado, esperamos dias para saber sim ou não, esperamos minutos para qualquer coisa importante ou não, como o tempo que demora a aqueçer a água para o chá.

Não interessa. E mesmo que o que esperamos não tarde a chegar e seja o bom em vez do mau, é a espera, os momentos antes, que nos matam, que nos atiram a vida para os lados da inércia.

É assim a espera, a vil espera.

Fica aqui a versão de Mafalda Veiga e Jõao Pedro Pais: ''Paciência''

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Desejo e a Posse



"Um homem não se sente totalmente privado dos bens aos quais nunca sonhou aspirar, mas
fica muito satisfeito mesmo sem eles, enquanto outro que possua cem vezes mais do que
o primeiro sente-se infeliz quando lhe falta uma única coisa que tenha desejado. A esse respeito, cada um tem também um horizonte próprio daquilo que lhe é possível atingir, e as suas pretensões têm uma extensão semelhante a esse horizonte. Quando determinado objecto, situado dentro desses limites, se lhe apresenta de modo que o faça acreditar na possibilidade de alcançá-lo, o homem sente-se feliz; em contrapartida, sentir-se-à infleliz quando eventuais dificuldades lhe tirarem tal possibilidade. Tudo o que estiver situado externamente a esse campo visual não agirá de forma alguma sobre ele. Por esse motivo, as grandes propriedades dos ricos não perturbam o pobre, e, por outro lado, para o rico cujos propósitos tenham fracassado, serve de consolo as muitas coisas que já possui. (A riqueza assemelha-se à água do mar; quanto mais dela se bebe, mais sede se tem. O mesmo vale para a glória).

O facto de que o nosso humor habitual não resulte muito diferente do anterior após a perda de uma riqueza ou do bem-estar, tão logo tenha sido superada a primeira dor, depende, por sua vez, do facto de nós mesmos, segundo a diminuição do limite constituído pelas nossas posses por obra do destino, diminuímos na mesma medida o limite das nossas pretensões. Esta operação é justamente o elemento doloroso em si, devido a uma desgraça: depois que ela se cumpre, a dor diminui sempre mais, até não ser mais sentida: a ferida cicratiza-se. Ao contrário, num caso feliz, aquilo que comprime as nossas aspirações é aliviado, e elas expandem-se: nisso está a alegria. No entanto, ela também dura apenas até o momento em que tal operação se realiza totalmente: nós habituamo-nos à ampliação dos nossos desejos e tornamo-nos indiferentes à posse correspondente. A fonte da nossa insatisfação reside nas nossas tentativas, continuamente renovadas, de aumentar o limite constituído pelas pretensões, enquanto o outro factor, que o impede, permanece imutável."

Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz'

Arthur Schopen (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX da corrente irracionalista. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação, embora o seu livro Parerga e Paraliponema (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou conhecido por seu pessimismo e entendia o Budismo como uma confirmação dessa visão. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Friedrich Nietzsche.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Melgaço, “Onde Portugal começa...”


Para abstrair das notícias da casa nova que nunca chegam, fomos viajar novamente.
O destino do final de semana foi Melgaço, na Pousada da Juventude, novinha em folha:

http://www.escritadigital.pt/edicoes1/pousadas/artigos.asp?rev=1&cat=517
&art=2936

Fomos na sexta feira a noite, de lua cheia, reflectida nas nossas expresssões de encanto com tanta natureza a nossa volta.

Localizado na Extremidade Norte do País, Melgaço é uma pequena e antiga vila impregnada de um perfume de outras eras, plena de recordações históricas e lendárias onde o tempo e a vida deixaram vestígios que não mais se apagam.
Com o Minho como pano de fundo, Melgaço estende-se desde o rio Minho até às serras da Peneda e do Soajo. O Vinho é o seu grande embaixador, as festas e romarias as suas principais atracções.

Sábado passeamos pela vila, corremos e deitamos na grama ao sol, fomos ao parque infantil, vimos o rio Minho e as suas corredeiras, usadas para a prática de desportos-aventura: rafting, rappel, slide, canoagem, tiro com arco. Colónias de férias e acções de formação.

No domingo passamos na estrada que liga Ponte Lima à Viana do Catelo, no restaurante São Nicolau, paramos para almoçar o famoso "arroz de sarrabulho" que estava divinal.

Valeu, mais um final de semana em família, com o Pedro feliz da vida e nós também!

Fica esta maravilha de versão do David Fonseca - "Rocket Man"

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Vila Nova de Cerveira - Gondarem



Neste final de semana fomos a uma Estalagem em Gondarem http://www.estalagemboega.com

Um lugar lindíssimo, a margem esquerda do rio Minho, onde estão também as ilhas da Boega e dos Amores, marcas de beleza do Alto Minho, até ao cimo dos montes de Goios e Pena. Estes montes abrigam as suas populações que desde sempre aí se estabeleceram.

A Freguesia de Gondarém, prima pela sua fertilidade agrícola e talvez seja por isso, uma das mais das mais populosas do concelho de Vila Nova de Cerveira.

Chegamos na sexta-feira e ficamos até domingo final da tarde, passeamos no ferry-boat que liga a Goyan (Espanha), o Monte de Nossa Senhora da Encarnação e o Convento de S. Paio, dos Milagres, cenóbio de frades, hoje, centro de artistas e casa de eleição do escultor José Rodrigues.

A lenda fala que era uma vez … um cervo (veado), que os Deuses do Olimpo quiseram que fosse Rei. Escolheu estas terras outrora desabitadas do "bicho" homem e aqui plantou sua colónia de cervos de tal modo que nas redondezas toda a gente passou a chamar a estes lugares "terras de cervaria". Muitos anos correram. Lutas e refregas, calamidades que foram dizimando a colónia, até que ficou só o Rei Cervo.

Quando os Senhores de pendão e caldeira desceram dos cerros asturianos à conquista do que seria mais tarde o "Condado Portucalense", um jovem fidalgo desafiou o Rei Cervo para uma luta frente e frente. A luta seria travada entre arvoredos e ervas daninhas e num local onde existiam pequenas valas no lugar de Valinha.

O Rei Cervo venceu !

Ainda hoje e para que a lenda não se perdesse, as "armas" de Vila Nova de Cerveira têm um cervo em campo verde, e também, no cimo dos montes mandou-se construir "in memoriam" o Rei Cervo, que numa notável escultura em ferro, de José Rodrigues, atesta a longevidade das "Terras de Cervaria".

Foi um final de semana fantástico, o Pedro adorou e nós também!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

14 de Fevereiro


Senti necessidade de escrever hoje, afinal o "Amor" é e sempre foi um aditivo importantíssimo das nossas vidas.
Pelo amor do meus pais, fui concebida.
Por amor ao Jorge mudei de vida e renasci em Portugal.
O nosso amor fez o Pedro, que é o maior amor da minha vida.
E assim sucessivamente...
O amor move a vida.
Muda, se recicla e continua.

Deixo aqui este soneto de Luís Vaz de Camões, foi publicado postumamente em 1595 e tem por origem o texto bíblico 1, Coríntios 13.

"Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor ?"